S. Bernardo | Graciliano Ramos

1. INTRODUÇÃO


A história de São Bernardo é um relato pessoal em que nos conta Paulo Honório a história de sua vida, como se estivesse a meditar sobre ela. É algo de muito interessante porque a meu ver esta é a história da avareza e suas consequências dentro de uma realidade brasileira.


2. SINOPSE

Paulo Honório era alguém que ajudava um cego vendendo cocada quando criança, e depois começa a trabalhar na roça com esforço. Nessa época é preso por esfaquear João Fagundes porque este se envolvera com a mulher a quem Paulo Honório deveu sua iniciação sexual. Na prisão aprende a ler e lá nutre sua ambição de acumular grande riqueza.

Ao sair da prisão toma dinheiro emprestado e começa a tratar negociações comprar bois, plantar mamona ou algodão… até que inicia uma amizade interesseira com Luís Padilha, herdeiro da fazenda São Bernardo, em que trata horas a fio uma negociação que consegue comprar a fazenda.

Adiante ele consegue expandir o seu terreno, tendo para isso a ajuda de Casimiro Lopes, seu amigo, para matar um fazendeiro vizinho… várias das conquistas de Paulo Honório são passadas conseguindo por meio de várias pequenas e grandes injustiças e trapaças. Toma como ajudantes, Gondim, jornalista local, padre Silvestre e o advogado Nogueira, homem capaz de manipular os políticos locais. Toma também a ajuda de Ribeiro para a contabilidade, alguém que um dia chegou a ser uma autoridade local quando a “civilização” era ainda pequena e ele o único letrado do local. Por último também contrata Luís Padilha para alfabetizar seus empregados e agradar o governador de Alagoas, dando no entanto uma condição precária para a educação.

Quando Paulo Honório resolve, sem saber muito o porquê, que era necessário casar-se, porque queria um herdeiro. Resolve por buscar uma pretendente adequada e encontra assim a pessoa de Madalena. Casa-se e desde o casamento entende que Madalena era uma pessoa frágil e exigente. Não a compreende.

Uma vez em que recebe a visita do Juiz Magalhães em sua casa e percebe sua conversa animada com Madalena, porque intelectual, Paulo Honório sente-se humilhado e com ciúmes e começa a torturar-se nesses ciúmes. O ciúme aumenta quando vê que Madalena escrevia uma carta para Gondim e começa a exigir explicações à Madalena.

Também não entende Madalena que sempre protesta a respeito de seu tratamento bruto com empregados e negligente com Luís Padilha, que necessitava de melhor condição para a educação, como a compra de material escolar. 

Um dia Paulo Honório percebe Madalena escrevendo, e indo ver o trabalho de seus empregados vê uma folha no chão pensando ser de Madalena, e do trecho escrito começa a ficar tomado por ódio intenso de certeza que a carta era endereçada para algum homem. Saindo assim a procura da esposa, a encontra na igrejinha da fazenda a rezar e exigindo explicações ela simplesmente pede perdão a ele por todos os aborrecimentos que ela vem causando.

No dia seguinte, ouve gritos e descobre que Madalena se suicida e encontra na bancada uma carta de despedida para o marido. Dessa morte, algumas pessoas deixam a fazenda e Paulo Honório vê-se em solidão. É desse ponto em diante que ele justifica a necessidade de escrever sua história, sentindo um amargor profundo mas que sua condição bruta, áspera e de pouca cultura não o permite enxergar melhor o tamanho de sua dor, ainda que se esforce por escrevê-la.


3. CRÍTICA


A história de Graciliano Ramos revela especialmente a rudeza de certas situações humanas do Brasil. Já ouvi relatos a respeito de haver uma pobreza mais humilhada no nordeste do que a que conheço em Minas Gerais, por exemplo, e de certo modo vejo isso confirmado na História. Paulo Honório é um homem bruto e ganancioso e não vê problemas em fazer o que for necessário para conquistar o que almeja.

O que ele não percebe ao fazer isso é que ele achata a condição humana para um estado miserável. Isso é especialmente visível em Madalena: uma mulher sensível e que tem caridade para com os empregados, e é preocupada com a condição precária da educação. No entanto Paulo Honório quer apenas uma espécie de garantia “formal” dessa educação, com fins em situar-se melhor politicamente em sua região. Uma vez a tendo, agrada o poder de Alagoas e isso se torna um instrumento de poder para o que almeja. Não importa a qualidade do que faz, apenas alcançar o que almeja.


4. INTRODUÇÃO

Isso é especialmente revelador, porque vejo que isso não é muito diferente de qualquer política nacional. O que importa é dizer “quantas escolas, creches e hospitais” as políticas locais foram capazes de abrir, e assim garantir com isso a próxima eleição. 

A qualidade material do que é feito nunca importa. Só o número. O resultado é amargarmos, como Paulo Honório, porque nessa condição bruta de achatar a condição humana nossa termina por ser como um suicídio, como ocorrido por Madalena, quem representa a sensibilidade e o desejo de coisas mais altas e melhores que não encontra espaço na vida privada de nada além da busca do mais imediato poder e riqueza.

Então eu penso que essa história retrata bem, à brasileira, o resultado de uma avareza bruta. 


Lucas Souza

Advogado, amante da leitura, percebi que a escrita é um prolongamento natural desse amor que os próprios livros nos pedem. Assim nossos pensamentos e reflexões se desdobram a partir dos meus estudos de arte, literatura, filosofia, religião, psicologia, história e línguas. Acompanhe-me para desvendar um pouco mais sobre estes assuntos.

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