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Você sabe ler bem? Pode ser que já tenha se deparado com um livro e dito: eu gosto muito deste livro! Sabe citar até um trecho ou outro. Mas não sabe exatamente dizer o porquê de gostar tanto dele.
Não é tão evidente, mas a habilidade da leitura é uma atividade fundamental da atividade intelectual.
Para saber se lemos bem é preciso entender que existem muitos modos e muitos níveis diferentes para se ler um livro. Isso não pode ser algo passivo, é uma atividade que devemos dedicar toda a nossa atenção.
É necessário saber como melhorar a qualidade de nossas leituras. Por isso mesmo Como Ler Livros de Mortimer Adler nos aponta esta direção: podemos melhorar muito a nossa capacidade de leitura, e fazendo isso crescemos intelectualmente e como pessoas.
Primeiramente podemos considerar que lemos com diversas dimensões diferentes: para nos informar, nos divertir ou para entender algo, o que supõe que há vários níveis de leitura proporcionais à capacidade e necessidade que temos da leitura:
- Leitura Elementar: é o nível do alfabetizado.
- Leitura Inspecional: quando temos um tempo limitado, inspecionamos um livro para prever o seu conteúdo e determinar se é uma leitura que vale a pena para nós
- Leitura Analítica: é a leitura propriamente dita, quando idealmente temos um tempo ilimitado, e lemos o livro ativamente para compreendê-lo
- Leitura Sintópica: é a leitura de muitos livros para uma compreensão sistemática e abrangente de um determinado assunto (cuja ordem e necessidade o leitor mesmo quem estabelece)
1. LEITURA ELEMENTAR
PRIMEIROS PASSOS DE UM LEITOR
A leitura elementar distingue o alfabetizado do não alfabetizado. Só isso.
Como se trata de uma construção elementar, não ocupa grande espaço do livro, tratando de ser a introdução fundamental para as próximas leituras que se dedica maior interesse para o melhoramento da leitura. Assim, considera que quem está lendo o Como Ler Livros é alguém que venceu esta etapa.
Vejamos então quais são os quatro estágios da leitura elementar:
- Prontidão: grau mínimo de percepção visual (prontidão para leitura), falar com clareza e com ordenação (prontidão linguística) e interagir com outras crianças (prontidão pessoal) porque a palavra antes de um sinal gráfico é a forma como nos relacionamos socialmente.
- Leitura de materiais bem simples, como palavras acompanhadas de imagens
- Progresso na construção vocabular: por meio de contextos a criança vai encontrando por si mesma mais palavras e seus significados.
- Aperfeiçoamento dos estágios anteriores: com maior assimilação literária, e transportando sentidos de um texto a outro.
2. LEITURA INSPECIONAL
A ARTE SELECIONAR O QUE REALMENTE DEVEMOS LER
É uma leitura rápida, mas não a chamada “dinâmica” ao qual não deixa de receber uma crítica no livro. Em suma “nenhum livro deve ser lido mais lentamente do que merece, e nenhum livro deve ser lido mais rapidamente do que seu aproveitamento e compreensão exigirem”.
Nesse gênero de leitura, há duas espécies, ao qual o leitor experiente consegue realizar as duas de uma só vez, mas é bom deixá-las aqui bem distintas.
- O primeiro modo de leitura inspecional é a sondagem. É "correr o olho". Fazendo isso somos capazes de fazer a “triagem” e definir se o livro nos interessa mesmo ou não. Vejamos as sugestões para uma boa inspeção do livro:
- Examinar a folha de rosto e o prefácio
- Examinar o sumário
- Consultar o índice remissivo
- Ler contracapa e sobrecapa
- Examinar os capítulos que parecerem ser os que encontra o argumento central
- Folhear o livro
- O segundo modo de leitura inspecional trata de ler rapidamente o livro de cabo a rabo. Todos tem a experiência de querer ler um livro e não chegar ao seu final. Então, esse segundo modo de leitura vem mostrar que não podemos esperar demais de nossa primeira leitura de um livro difícil. A regra consiste simplesmente:
Ao encarar um livro difícil pela primeira vez, leia-o sem parar, isto é, leia-o sem se deter nos trechos mais espinhosos e sem refletir nos pontos que ainda permanecem incompreensíveis para você.
3. LEITURA ANALÍTICA
Eis o coração do livro. A leitura analítica é realmente ler um livro, de maneira ativa. Isto é, aproveitá-lo para crescer em mente e espírito. E para fazer isso existem quatro grandes perguntas às quais devemos ter em mente enquanto lemos um livro.
Não são perguntas quaisquer são quatro perguntas fundamentais que devemos fazer ao livro para desvendá-lo e extrair o máximo de sua leitura.
Quais são elas:
O livro fala sobre o quê?O que exatamente está sendo dito, e como?O livro é verdadeiro, em todo ou em parte?E daí?
Ou seja, é primeiro um trabalho descritivo e objetivo, e depois valorativo:
- Na descrição:
- Buscamos captar numa síntese qual é a essência do livro
- Depois buscamos entender passo a passo como ele é
- Na valoração:
- Tentamos entender o que se aproveita mesmo deste livro, verdadeiramente
- E enfim buscamos qual é o significado desse livro, principalmente para nossa vida
É isso o que devemos perguntar a cada livro que lemos. Assim, para percorrer melhor um livro os seguintes capítulos vão subdividir e explicar estas quatro perguntas, que, uma vez respondidos, conseguimos dizer que apreendemos um livro completamente. Vejamos a seguir como dividimos a leitura.
3.1. REGRAS GERAIS
O PASSO A PASSO PARA UMA LEITURA INTELIGENTE
Primeiro estágio: descobrindo o conteúdo
- Classifique o livro de acordo com o título e assunto
- Expresse a unidade do livre de maneira mais breve possível
- Enumere suas partes principais em ordem e relação, e esboce essas partes assim como esboçou a unidade
- Defina o problema ou os problemas que o autor busca resolver
II. O QUE EXATAMENTE ESTÁ SENDO DITO, E COMO?
Segundo estágio: interpretando o conteúdo
- Chegue a um acordo com o autor, interpretando suas palavras-chave
- Capte as proposições principais, encontrando as frases mais importantes
- Entenda os argumentos do autor, encontrando-os ou compondo-os com vases em conjuntos de frases
- Determine quais problemas o autor conseguiu resolver e quais ele não conseguiu resolver; neste caso, decida se o autor sabe que fracassou ao não resolvê-los
III. O LIVRO É VERDADEIRO? NO TODO OU EM PARTE?
Terceiro estágio: criticando o conteúdo
- Não critique até que tenha completado o delineamento e a interpretação do livro (não diga que concorda, discorda ou que suspende o julgamento até que tenha dito “entendi”)
- Não discorde de maneira competitiva
- Demonstre que reconhece a diferença entre conhecimento e opinião pessoal apresentando boas razões para qualquer julgamento crítico que venha a fazer.
- Mostre onde o autor está desinformado
- Mostre onde o autor está mal informado
- Mostre onde o autor foi ilógico
- Mostre onde a análise ou a explicação do autor está incompleta
É importante ressaltar que esta crítica deve ter uma Etiqueta Intelectual: tentamos desvendar o autor com benevolência para descobrir o que ele diz, não tentar destruí-lo - regra sobretudo importante quando buscamos ler um livro de algum autor que não nos agrada.
Não há benefício em "destruir" um autor: a obra permanece inalterada e continuamos a não entendê-la.
Assim, feito estes passos, avançamos de uma mera informação para o entendimento da leitura. E assim podemos fazer a última pergunta.
IV. E DAÍ?
Esta pergunta não tem um fim propriamente dito: podemos sempre revisitar um livro e extrair mais dele para nossa vida. É sutilmente diferente da terceira pergunta. Naquela tentamos responder criticamente a posição do autor no “mundo da cultura” usando o conhecimento que nós temos para tal. Nesta outra pergunta o objetivo é dar o acabamento geral da obra, isto é: absorvido o livro, qual é o seu significado, ou seja, proveito ele me traz como um todo diante para meu horizonte de consciência, para a vida.
Importante! O próprio Mortimer Adler indica que esta é uma exposição ideal de leitura. O que significa que esse é o desempenho ideal, não real, de um livro. Poucas pessoas o fazem, e se o fazem, não é com tanta frequência, uma vez que é de fato uma leitura muito exigente. Assim o ideal permanece como medida de realização ao qual aplicamos de maneira escalar em cada leitura que fazemos!
3.2. REGRAS ESPECIAIS
COMO LER SOBRE DIVERSOS ASSUNTOS
O livro não se esgota em ensinar o modo de se ler idealmente qualquer livro. Avança do genérico e vai explorar as espécies típicas de leituras que encontramos, para nos ensinar como aproveitar bem a leitura nos diferentes gêneros textuais.
As regras abaixo são pequenas adaptações e apontamentos da regra geral, portanto ela não pode ser esquecida. Eis em resumo como deve ser a leitura analítica aplicada a cada gênero literário:
I. COMO LER LIVROS PRÁTICOS
Livros com regras, prescrições e qualquer espécie de orientação geral são livros práticos (manuais, autoajuda, Política de Aristóteles, Príncipe de Maquiavel, Leviatã de Hobbes, o próprio Como Ler Livros).
Primeiro, é importante saber que livros práticos nunca podem resolver os problemas práticos de que eles tratam. Eles são livros teóricos que apresentam regras mais ou menos gerais para muitas situações particulares de tipo semelhante.
Ou seja, se o problema é ganhar dinheiro, o livro pode oferecer insights preciosos, mas no fim só a ação prática nos faz ganhar o dinheiro!
Mais importante nesse tipo de leitura é:
- descubra aquilo que o autor quer que você faça
- descubra como ele propõe que você faça aquilo
II. COMO LER LITERATURA IMAGINATIVA
Esta é a maior parte do que as pessoas leem. É importante destacar que diferente de um livro expositivo, a literatura imaginativa mais deleita que ensina. É mais fácil deleitar-se do que aprender. Sabemos dizer trechos que gostamos de um livro, mas paradoxalmente é difícil descrever o porquê exatamente gostamos de um livro assim. Há um motivo para isto: é mais difícil analisar a beleza do que a verdade.
Livros expositivos transmitem conhecimento; os imaginativos nos transmitem uma experiência: uma vez bem feito, ela nos deleita. Por essa natureza da experiência a primeira recomendação é:
não tente resistir ao efeito que uma obra de literatura imaginativa tem sobre você.
Precisamos permitir que o livro agir sobre nós. Assim a realidade experimentada do livro permite-nos algo muito precioso: expandir a realidade da nossa vida interior e nossa visão singular do mundo.
É preciso saber também que na literatura imaginativa o autor procura maximizar as ambiguidades latentes das palavras para alcançar melhor a força e os múltiplos sentidos da realidade, diferentemente de um texto expositivo. Por isso a outra recomendação:
Não critique a ficção usando critérios de verdade e coerência que são devidamente aplicados à comunicação do conhecimento.
Finalmente podemos agora delinear as regras gerais para a leitura de literatura imaginativa:
- Regras estruturais:
- Classificar a obra de acordo com sua espécie (poema, teatro, novela, romance...)
- Apreender a unidade da obra inteira - o enredo (tente sintetizar a obra em uma ou duas frases)
- Apreendido a unidade, expresse como é composta suas partes
- Regras interpretativas:
- Familiarize-se com os personagens
- Familiarize-se com o mundo imaginário ali retratado
- Familiarize-se com o pulso da narrativa - não se perca no enredo
- Regra crítica:
- Não critique uma obra imaginativa enquanto não tiver apreciado por completo a experiência que o autor quer que você tenha.
Com isso a pessoa é capaz de realmente apreciar um livro de literatura imaginativa e não apenas dizer se gosta ou não do livro, mas o por quê.
III. SUGESTÕES PARA LEITURA DE NARRATIVAS, PEÇAS E POEMAS
- Como ler narrativas
Leia rápido e entregue-se totalmente a ela.
Com isso conseguimos apreender melhor o todo da obra sem perder o pulso da narrativa.
- Como ler épicos
- Como ler peças teatrais
Deve-se fingir que está assistindo uma representação. Porque quando se lê uma peça teatral é preciso ter consciência que a obra não está completa: a finalidade da peça teatral é a sua representação em palco. Portanto, para apreender melhor este tipo de literatura devemos completar imaginativamente como devia ser a representação teatral.
Nota sobre tragédias: não vale a pena ler maior parte das peças teatrais justamente porque são incompletas. Mas, algumas peças possuem intuições jamais expressas em palavras pelo homem (Shakespeare, Molière, Sófocles, Ésquilo...).
- É preciso ter consciência de que na tragédia o principal é que nunca há tempo suficiente, as protagonistas lutam contra o tempo (ou o destino).
- Especialmente quanto ao teatro grego deve-se ter consciência de que há uma divisão do coro e das protagonistas
- Protagonistas usam saltos plataformas: são pessoas "gigantes"
- O coro é da nossa altura: são pessoas comuns
- Como ler poesia lírica
Muitos pensam que não são capazes de ler poesia. Desse modo o conselho quanto à poesia é:
- Ler até o fim sem parar (regra já mencionada para outros tipos de leitura que é especialmente importante nesse tipo de leitura)
- Ler uma segunda vez, desta vez em voz alta - sentir a musicalidade do poema: o ouvido se ofende com a entonação errada
- Ler um mesmo poema várias vezes; a leitura de um grande poema dura toda a vida - contextos e conhecer o autor podem ajudar, mas nada substitui a revisita ao longo da vida a um mesmo poema
IV. COMO LER LIVROS DE HISTÓRIA
Porém, não podemos ter certeza de como as coisas realmente aconteceram, portanto: a certeza histórica tem sempre algum grau de dúvida.
- Se puder, leia mais de um texto sobre um evento ou período que lhe interesse
- Leia um livro de história não para saber o que realmente aconteceu em determinado tempo e lugar no passado, mas também para ver como os homens agem em todo tempo e lugar, sobretudo agora
- Todo livro de história tem um assunto particular e limitado. Saibamos do que ele trata para não criticar o autor sobre assunto que ele não se propôs a tratar
- Existe mais de um jeito de se contar uma história, temos de saber como o historiador decidiu contar a dele
- Na crítica podemos verificar:
- Se o historiador usou bem suas fontes - se foi hábil
- Se há realmente verossimilhança nos fatos narrados - se parece que realmente aconteceu como narrado
- A resposta ao "e daí?" é prática: tiramos lições da história para não repetir o passado - seja na vida particular ou na política
- Como ler biografias e autobiografias
- Biografia definitiva: Esta obra se pretende definitiva e exaustiva. É um corte histórico de como era alguém em uma certa época, visto pelos olhos dele: deve ser lido como história.
- Biografia autorizada: Não se pode confiar numa biografia autorizada como numa definitiva: pode ser tendenciosa e elogiosa. É como um amigo ou colega que mostra como o biografado quer ser visto no mundo.
- Biografias comuns (não definitivas e não autorizadas): Apenas saber que não tem a mesma confiabilidade das acima, mas tem maior chance de render ótimas leituras.
- Biografias didáticas: Em desuso, têm propósito moral. Mostram vidas exemplares. O importante desse tipo de obra é contar grandes história é inspirar-nos a também ser grandiosos.
- Autobiografia: Como ninguém é totalmente perfeito na mentira. Uma autobiografia diz muito de seu autor, nem que seja o que ele prefere esconder. Não é bom perder tempo querendo descobrir segredos do autor, mas entender o que ele diz diretamente. Esse estilo costuma ser frequentemente mais poético ou filosófico que os demais.
- Como ler sobre atualidades
- O que o autor pretende provar?
- Quem ele pretende convencer?
- O autor pressupõe que você tenha algum conhecimento particular?
- Ele usa algum linguajar peculiar?
- Ele sabe mesmo do que ele está falando?
- Como ler textos resumidos
V. COMO LER LIVROS DE CIÊNCIA E DE MATEMÁTICA
- Sobre clássicos científicos
- Sobre livros matemáticos
- Divulgação científica
VI. COMO LER LIVROS DE FILOSOFIA
- Conhecimento do ser e do devir: o que é e o que acontece no mundo, um conhecimento teórico e especulativo
- Conhecimento do bem e de mal: o que deve ser feito, um conhecimento prático, também denominado normativo
- Diálogo: comum em Platão, é uma conversa entre pessoas onde geralmente em que após falar um pouco, vai encadeando uma séria de perguntas aos interlocutores indicando a evolução de um pensamento inicialmente afirmado, o que pode levar ao absurdo das afirmações, uma falta de respostas (aporia) diante da complexidade do tema, ou um conhecimento mais bem fundamentado sobre o tema que foi proposto. É especialmente importante os diálogos de Platão, pois como diz Whitehead, toda a filosofia ocidental não passa de "uma nota de rodapé a Platão".
- Tratado ou Ensaio: comum em Aristóteles e Kant, é uma obra puramente teórica acerca de determinado tema, tomando uma exposição que começa estabelecendo o problema principal, e discute o assunto de maneira meticulosa e minuciosa, abordando assuntos específicos do meio ao fim do livro.
- Confronto de Objeções: estilo escolástico e aperfeiçoado por Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica. Propõe-se uma questão, enunciando as afirmações positivas e em contrário para enfim oferecer uma resposta que soluciona a questão e por último responder a cada uma das afirmações à questão proposta à luz da solução. É um estilo muito refinado e surgiu da ideia de que a verdade advém de algum modo da oposição e do conflito, comum nas discussões escolásticas.
- Sistematização da Filosofia: surge a partir de Descartes e Espinosa com a ideia de dar uma certeza e estrutura oriundas da matemática. Costuma trazer proposições, temas, corolários e lemas.
- Estilo Aforístico: é um estilo de escrita por afirmações curtas e enigmáticas. Aparece em Assim Falou Zaratustra de Nietzsche, e tem grande admiração em filósofos do século XX, que talvez se deva a uma admiração de leituras sapienciais do oriente. Nada tem de expositivo neste tipo de obra.
- Nota sobre teologia: há dois tipos de teologia.
- A teologia natural é um ramo da metafísica, que investiga as causas primeiras. É o que ocorre em Aristóteles quando presume uma existência de uma causa originária de todas as coisas, sendo ela mesma não causada por nada (Motor Imóvel).
- Nota sobre livros "canônicos": Mortimer Adler chama de livro canônico para englobar não apenas livros sacros propriamente ditos, mas modernamente livros que são encarados, de certo modo, desta maneira. Então assim o é a Bíblia. Mas também assim é o Talmud, o Corão, ou mesmo as obras de Karl Marx para um marxista ortodoxo, o Livro Vermelho de Mao, para comunistas chineses, as obras de Freud para psicanalistas, ou o manual da infantaria para o exército [americano], ou livros de direito para quem quer passar em exames de ordem.
- Uma Igreja, um Partido Político, uma agremiação qualquer
- É uma instituição que ensina
- possui um corpo doutrinário a transmitir
- tem membros fieis e obedientes que fazem leitura do livro de modo reverente
VI. COMO LER LIVROS DE CIÊNCIAS SOCIAIS
4. LEITURA SINTÓPICA
OS FINS ÚLTIMOS DA LEITURA
RESUMO DA LEITURA SINTÓPICA
- Inspeção de campo preparatória para a leitura sintópica
- Prepare uma bibliografia provisória de seu assunto lançando mão de catálogos de bibliotecas, orientadores e bibliografias de livros
- Inspecione todos os livros da bibliografia provisória para averiguar quais têm a ver com o assunto que lhe interessa e para formar uma ideia mais clara do assunto
- Leitura sintópica da bibliografia reunida
- Inspecione os livros que já foram identificados como relevantes para o assunto a fim de encontrar as passagens mais importantes
- Forje um consenso entre os autores por meio da construção de uma terminologia neutra do assunto que, segundo sua interpretação, todos, ou a grande maioria, pudesse empregar, quer eles efetivamente empreguem tais palavras, quer não.
- Estabeleça uma série de proposições neutras para todos os autores por meio de uma série de perguntas que, segundo a sua interpretação, os autores respondem, quer eles tratem explicitamente dessas questões, quer não.
- Delimite as divergências, grandes e pequenas, demarcando as respostas contrária dos autores às diversas perguntas, estando eles de um lado ou de outro na divergência. Deve-se lembrar que nem sempre há uma divergência explícita entre dois ou mais autores e que às vezes é preciso construí-la por meio da interpretação das opiniões dos autores sobre assuntos que podem ter figurado entre seus interesses básicos ou não.
- Analise a discussão ordenando as perguntas e divergências de modo a esclarecer o máximo o assunto. As divergências mais gerais devem vir antes das menos gerais, e as relações entre as divergências têm de ser indicadas com clareza.
CONCLUSÃO
O LIVRO MAIS ABRANGENTE SOBRE A ARTE DE LER
- Grande maioria basta folhear
- Alguns milhares valem a pena ler, mas não voltar a ele; sabemos disso por nossa reação mental de que o livro não tem mais chance de nos modificar
- Algumas centenas não serão exauridos, estes valem a pena reler e aprendemos mais coisas novas com ele
- A menor parcela, talvez nem mesmo uma centena são livros inesgotáveis: há sempre novidades nele, parece que crescemos junto com eles